sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Noite

A noite me parece mais fria que o normal, hoje. Talvez tenha caído abruptamente a temperatura do meu corpo no instante que soube que não mais sentiria o gosto dos teus lábios nos meus. Não nos veríamos mais. Foi um dia diferente dos outros. Cansativo, entediante, obscuro. Nada construtivo. Passei por cada hora observando atentamente o rastejar dos ponteiros do relógio até a hora que eu te encontraria. Saberia que toda aquela angústia que me corroia por dentro dissolveria no instante que eu veria teu rosto. Não haveria nada mais dentro de mim. A não ser o desejo gritante, inflável, perverso e insano por ti. Mas, tu não estarias lá, a me olhar. Não estaria esperando por mim. A noite tornava-se mais fria por não estar por perto. Os ponteiros do relógio voltariam a rastejar como nesta tarde junto com o retorno da minha angústia sufocante. Eu teria outra noite entediante, ao lado de um bom livro e um cobertor, e esperaria pacientemente para que pegasse no sono. Isso se a ansiedade que se misturava à minha angustia me deixasse dormir. Por mais que não a visse hoje, meu coração pulsava antecipadamente por amanhã. Apenas essa noite seria fria demais. Amanhã, o aconchego do teu abraço e o calor irradiado do teu beijo me aqueceria outra vez. E eu voltaria a manter meus pés no chão.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Expressão

“Quando tarda quem amo, meu coração fica exposto e aberto”.
Não sei absolutamente quantos dias compus minha vida sem nenhum amor. Mas sei que depois do primeiro, instintivamente não conseguirei evitar o segundo, o terceiro. Nosso corpo clama por mais, mais e mais. Talvez não fosse amor, mas algum sentimento indecifrável e estupidamente inflável compusera meu coração. Eu ouvi calada alguma coisa, em qualquer tempo. Algumas coisas sobre amor, outras sobre a dor. Enfim, dá no mesmo, não é? Mas falei para quem precisasse ouvir - minhas coisas sobre amor e dor. Escrevi, melhor dizendo. Não percebeste, mas além dos meus lábios expressando meus dizeres, meu corpo falava também. Numa batida mais abrupta do coração quando dizia algo reprimido há tempos ou num olhar desviado, para não admitir que a coragem que eu tinha para encarar teus olhos, mais uma vez, havia se decomposto. Nossos jeitos são singulares. Talvez se entrelacem de alguma forma, talvez não. Tanto faz. Às vezes sentimos como se caminhássemos desencontrados. E acredito que esse seja o ponto chave. Caminhamos pelo mesmo lado inúmeras vezes e sempre acabamos juntos no final. E daqui pra adiante eu já não sei escrever mais. Por que nosso tempo continua daqui pra frente. Sabe-se Deus se caminharemos mais vezes ao desencontro ou se, definitivamente, vamos nos abraçar e segurar com toda força o que vier para nós. Como nômades, sem destino e paradeiro. Como cegos no dia mais claro da semana, ainda assim enxergam o escuro.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sem resposta

Sempre acordo ao sonhar; Choro sem motivos; Canto de alegria; Às vezes falo por falar; E quando realmente preciso dizer algo, normalmente gaguejo; Nem sempre minhas vontades são saciadas; Meus sorrisos nem sempre são de felicidade; Assim como meus choros nem sempre são de tristezas; Poucas vitórias eu alcancei, mas são vitórias graciosas; Meus medos são medos comuns; Minhas vontades vêm do nada; Muitas vezes minto pra mim mesma só para não perder as esperanças; Quero coisas que nunca tive; Quero me desfazer de coisas que nunca sairam de dentro de mim; Posso ser ingênua, imatura, infantil, inocente, ignorante (...) e todas as coisas que qualquer ser humano possa estar à margem de um dia ser também; Sei quando devo seguir, e sei quando devo recuar; E quando não sei, aprendo com as conseqüências; Tantas vezes já tive raiva de tudo; Tantas vezes me arrependi por não ter abraçado tudo; Eu gostaria de saber se, pra ti que faz parte da minha vida, como seria sua vida sem mim? E se você NÃO fizesse parte dela, faria diferença alguma? Tanto faz qual a pergunta você se encaixe, mas, se pensar bem, nunca saberá responder.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Reciprocidade

Uma definição para o que eu penso existir entre a gente: apatia. Ausência de afeto e paixão. Concordas? Não quero desprezar os dias que passamos juntos, tão pouco menosprezar ambas as atribuições de afeto. Não quero definir, absolutamente, o que ocorre entre a gente. Mas não quero, também, não expressar como me sinto. Essa sua negatividade, inexpressão para o que acontece me atormenta. E muito. Delira-me em múltiplos pensamentos, alguns um tanto inconseqüentes, mas que só eu sofrerei com isso. Sofrimento opcional. Eu poderia simplesmente mandar tudo isso pro espaço e aproveitar minha vida monótona que eu tinha antes de te conhecer. Mas confesso, abertamente, eu não quero isso. Não. Não pra mim. E outra: incomoda-me essa sua mania de querer deixar as coisas subentendidas, usar palavras diretas e monossilábicas para responder os textos que te mando, as súplicas indiretas que eu expresso um “continue a falar comigo”, os assuntos absurdos que eu me esforço para não deixar o contato acabar, deixando escapar por entre os dedos a chance que eu tinha de poder mostrar a ti quem eu sou... Não me revolto nem um pouco se me disseres “não quero mais”. Entretanto, me emputeceria ferozmente se me enrolasse, me esnobasse como se fosse um qualquer que tu encontrou na esquina, brincou e jogou fora quando não serviu pra mais nada. Eu sei. Putas essas minhas palavras que soam como reclamações amargas e agressivas. Mas comigo é assim: ou demonstra duma vez que me quer ou me deixa sozinha com minha solidão inofensiva.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Absurdo

Odeio indiscutivelmente quando sigo por entre essas linhas intercaladas e invisíveis a outros olhos. Emendam-se por pontes segurando umas às outras fortemente. São remendos. Remendos passados feitos em momentos semelhantes ao presente. E esse é o meu erro. Não deveria remendar o que foi arrebentado, mas deveria construir algo novo em seu lugar. Assim não sofreria por saber que tal remendo está prestes a arrebentar a qualquer momento, deixando visível tais mágoas, tais arrependimentos, tais decepções. Do contrário, se construísse algo novo em seu lugar, talvez eu fosse segura demais para tornar a arrebentá-lo e saberia exatamente como deveria prosseguir. Talvez em minhas mãos esteja a chance de reviver todos os espaços desabitados em meu coração. Imagino-me em um corredor extenso de inúmeras portas, à direita, à esquerda, e que você não tem uma puta luz em mente pra saber o que fazer. Em tua mente milhões de escolhas a te atormentar. A teu lado, outros milhões de pessoas a te persuadir. Eu realmente não aceitaria um caminho fácil em minha vida. Gosto de correr riscos. Mas acho que está na minha hora. Na minha hora de mandar esse filho da mãe desse medo que me corrói a puta que o pariu, e aprender a voar para longe, para os males alheios, excitantes, gostosos de serem sentidos e que eu, como qualquer outra pessoa, tenho adoração em sentir também. E que esses remendos aos quais citei antes, arrebentem-se. Estou forte demais agora para me deixar levar por apenas isso. Que absurdo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Desvendar

Sabe, talvez fosse como se estivesse infringindo alguma regra. Na tentativa de tentar desvendar o que você enxerga talvez o correto não fosse manter os pés no chão. Poderíamos voar ao desconhecido, se me permitisse isso, caminhar por entre as pedras soltas, embaladas ao nosso peso sem medo de cair, pois eu sei que estará bem ao meu lado pra me estender a mão. Nossos passos calados lado a lado incomodam a nós dois. O som dos passos rastejando, implorando para que o silêncio seja quebrado por alguma palavra qualquer. O pulsar do meu coração acelerado que eu te juro, se estivéssemos a sós, você poderia ouvi-lo bater, sem compasso algum. Então eu me oponho a qualquer sentimento de resistência, e permito-me caminhar ao lado teu. Sem aquele medo visível de estar no caminho errado, cegamente, que sempre me persegue, mas com a adrenalina acionando meus movimentos e pulsando meu coração forte, forte, cada vez mais forte, para agir em busca do que o meu desejo grita mais alto: desvendar você.