sábado, 10 de outubro de 2009

Querido Deus ...

eu não tenho costume de te pedir as coisas, tão pouco de agradecer pelas coisas que tenho hoje. Eu sei que deveria perder o péssimo hábito de recorrer apenas nos momentos de pranto, mas como da última vez que recorri a Ti, hoje estou sufocada. Eu acredito na vida, principalmente nas coisas belas que ela me oferece. E eu "gasto" elas o máximo que eu posso. Até o dia que o Senhor tira elas de mim. Não Lhe culpo, não Lhe julgo, mesmo sem saber o porquê, mas eu não consigo aceitar. Eu nunca tinha perdido alguém nos meus 16 anos de vida, nunca havia sentido uma dor tão forte. Precisava doer tanto assim? Só o Senhor sabe o que eu senti no peito. E mais doloroso que perder alguém, é amar alguém que ficou e saber que amanhã ou depois será a sua vez. Prometa pra mim que não será agora? Eu não estou pronta pra uma dor ainda maior. Prometa pra mim que quando for de ser a hora, que não haverá dor, não haverá sofrimento, não haverá trajédias? Prometa pra mim que vai estar ao meu lado, porque não conseguirei sozinha? Prometa que enquanto eu não tiver pronta, não vai tirar o meu porto seguro de mim, não vai tirar minha base e me deixar solta no mundo sem rumo a seguir? Meus sonhos não são ambiciosos, eu não costumo sentir raiva, não costumo guardar mágoas e eu perdoo sempre. Eu aprendi a ser assim. Só te peço que proteja quem eu amo da forma que eu não consigo proteger pois não tenho esse poder. Proteja todos da mesma forma, e se um dia tiver de levar alguém antes da hora, prometa que levará a mim? Eu confio em Ti, querido Deus...

domingo, 4 de outubro de 2009

Amigo de si mesmo

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições de espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se esgana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam. Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: “Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades. Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”. Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar brigas por besteiras, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você. Acorde. Salve-se dos seus traumas de infância. Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angustias e sendo nada menos que seu pior inimigo.
(Martha Medeiros, 04 de outubro de 2009).